A indústria alimentícia enfrenta críticas por dificultar a tarefa dos pais de ensinar sobre alimentação saudável para as crianças, segundo a especialista em nutrição Marion Nestle. Ela ressalta que muitos produtos voltados ao público infantil são ultraprocessados e criados para serem altamente atraentes, o que prejudica a percepção das crianças sobre o que é uma dieta saudável.
Marion Nestle, com uma extensa carreira acadêmica, incluindo uma graduação em biologia molecular e um mestrado em saúde pública, é professora emérita da Universidade de Nova York. Ela participou da elaboração de importantes diretrizes alimentares nos Estados Unidos. Em sua visita ao Brasil, ela expressou satisfação com a tradicional refeição brasileira composta de arroz, feijão, carne e salada, afirmando que este prato é equilibrado e nutritivo, mas questionou a quantidade consumida.
A pesquisadora enfatiza que, ao ingerir alimentos minimamente processados ou não processados, as pessoas não precisam se preocupar excessivamente com a ingestão de nutrientes como proteínas e fibras, desde que estejam consumindo um volume adequado de calorias. Nestle também destaca a correlação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento de problemas de saúde, como obesidade infantil e doenças crônicas.
Em seu livro “Uma verdade indigesta – como a indústria alimentícia manipula a ciência do que comemos”, escrito com base em anos de pesquisa, ela discute como as empresas alimentícias promovem produtos não saudáveis às crianças, o que interfere na educação alimentar e na autoridade dos pais. A especialista acredita que alimentos ultraprocessados, embora possam ser consumidos ocasionalmente, não devem predominar na dieta.
Sobre rótulos de alimentos, Marion considera os brasileiros bastante informativos, ressaltando que a lista de ingredientes deve ser analisada para evitar produtos com muitos aditivos. No entanto, ela sugere que um rótulo específico para identificar ultraprocessados seria benéfico.
Ao discutir a alimentação infantil, Marion sugere que é fundamental expor as crianças a uma variedade de alimentos saudáveis desde cedo. Ela defende que as crianças podem comer os mesmos pratos que os adultos, mas em porções menores e com menos açúcar e sal.
Após a recente diminuição do limite de alimentos ultraprocessados em escolas públicas brasileiras, que passou de 15% para 10%, Marion elogia a proposta, mas admite que gostaria de acompanhar sua implementação na prática. Por fim, ela comentou sobre o impacto de novos medicamentos para tratar a obesidade, como Ozempic e Wegovy, que têm mostrado resultados positivos na redução do apetite e na alteração dos hábitos alimentares. De acordo com relatos de usuários, esses medicamentos podem ajudar a reduzir o desejo por alimentos ultraprocessados, levando a uma melhora na alimentação.