Um grupo de militares do Exército de Guiné-Bissau anunciou nesta quarta-feira, 26 de julho, que tomou o poder no país. A declaração foi feita um dia antes da divulgação esperada dos resultados de uma eleição presidencial que havia gerado controvérsia e suspeitas de fraudes.
No comunicado lido em rede nacional pelo porta-voz Diniz N’Tchama, os oficiais informaram que destituíram o presidente Umaro Sissoco Embaló. Eles também suspenderam o processo eleitoral, fecharam as fronteiras e instauraram um toque de recolher. Embaló confirmou a situação à emissora France 24, afirmando que havia sido deposto.
Os militares se autodenominaram “Alto Comando Militar pela Restauração da Ordem”, informando que permaneceriam no governo até nova orientação. O paradeiro de Embaló não foi esclarecido, gerando incertezas sobre sua situação.
Esse golpe, caso se confirme, representa mais um episódio de instabilidade em Guiné-Bissau, uma nação da África Ocidental que é um ponto estratégico para o tráfico de cocaína com destino à Europa. Ainda não se sabe se os militares têm o apoio total das Forças Armadas ou se controlam efetivamente todo o território, que abriga cerca de 2 milhões de pessoas.
Os oficiais alegaram que a decisão de assumir o poder se deve a um “plano de desestabilização” orquestrado por “certos políticos nacionais” e por “notórios barões da droga”, tanto locais quanto estrangeiros. Segundo eles, também houve uma tentativa de manipulação dos resultados eleitorais.
Pouco antes do pronunciamento dos militares, tiros foram ouvidos nas proximidades da sede da comissão eleitoral, do palácio presidencial e do ministério do Interior, segundo testemunhas. Essa troca de tiros na capital, Bissau, durou cerca de uma hora, mas não há informações sobre vítimas.
A comissão eleitoral tinha programado para esta quinta-feira, 27 de julho, o anúncio dos resultados da eleição ocorrida no último domingo, na qual Embaló e seu principal rival, Fernando Dias, reivindicaram vitórias. Embaló tentava se tornar o primeiro presidente desde 1994 a conquistar um segundo mandato consecutivo.
Um porta-voz de Embaló, Antonio Yaya Seidy, afirmou que homens armados não identificados atacaram a comissão eleitoral para impedir a divulgação dos resultados, sugerindo, sem prova, que o ataque poderia estar ligado ao seu rival, Dias. Este último estava reunido com observadores eleitorais no momento dos tiros e sua segurança foi garantida.
Portugal, por meio de seu governo, pediu o fim da violência em Guiné-Bissau e a retomada do processo eleitoral, ressaltando a necessidade de respeitar as instituições e concluir a contagem e a proclamação dos resultados eleitorais.
Guiné-Bissau tem um longo histórico de golpes de Estado, com pelo menos nove ocorrências desde a sua independência de Portugal, em 1974, até 2020, quando Embaló assumiu a presidência. Ele alega ter sobrevivido a três tentativas de deposição durante seu mandato e enfrenta críticas por ser acusado de criar crises para justificar repressão.
Recentemente, em dezembro de 2023, Bissau enfrentou tiros por várias horas, o que o governo classificou como um golpe frustrado. Embaló dissolveu o Parlamento após este episódio e o país não possui um Legislativo funcional desde então. Tentativas de golpe também foram registradas no final de outubro, quando autoridades prenderam oficiais de alta patente sob suspeita de tentativas de derrubar o governo.
Durante a administração de Embaló, aumentou o tráfico de cocaína, como aponta um relatório publicado em agosto. Esse documento afirma que o tráfico estaria mais lucrativo do que nunca na região. Em setembro de 2024, a polícia judiciária anunciou a apreensão de 2,63 toneladas de cocaína em um avião vindo da Venezuela, resultando na prisão de um brasileiro e outros quatro latino-americanos.