Jair Bolsonaro anunciou Flávio Bolsonaro como seu candidato à presidência do Brasil, buscando fortalecer laços em sua família e manter a identidade autoritária de seu movimento político. Essa decisão reflete o desejo de Bolsonaro de evitar a assimilação de seu grupo por partidos centrados.
Desde o início de sua trajetória política, Jair Bolsonaro tem conduzido sua estratégia política de maneira familiar. Seus filhos não possuem uma base política própria e dependem do apoio do pai para manter suas posições. Ele tem enfatizado que a lealdade é essencial, pois se um filho não o apoiar, pode ficar sem espaço na política e enfrentar dificuldades para encontrar emprego.
Em contrapartida, Michelle Bolsonaro, a esposa de Jair, possui algum capital político próprio, embora sua capacidade de se sustentar como candidata ainda não esteja clara. Ela é mais articulada e carismática do que muitos dos filhos do presidente, e não está associada a controvérsias que prejudicariam sua imagem.
Embora isso possa parecer positivo, a realidade é que Michelle não possui as qualidades políticas necessárias para liderar o grupo bolsonarista.De acordo com a dinâmica da família, apenas aqueles que demonstram total obediência a Jair são considerados apropriados para posições de poder.
Flávio Bolsonaro se encaixa nesse perfil de lealdade. Com a sua candidatura, Jair Bolsonaro sinaliza que está disposto a perder a eleição, mas não a dissolver sua ideologia na política tradicional. A prioridade de seu movimento é eleger senadores que possam, entre outras coisas, buscar a anulação de processos contra aliados e ressuscitar uma agenda mais autoritária.
Se a meta for alcançada, o resultado das eleições presidenciais, seja com Lula ou Tarcísio, será menos relevante para Jair, pois seu foco permanece em manter sua influência.
A candidatura de Flávio gera questionamentos sobre a estratégia da direita tradicional, que após a derrota de 2022 buscou moderar o bolsonarismo para seus próprios interesses. O grupo do centrão se beneficiou desse cenário, utilizando a retórica anti-STF dos bolsonaristas como uma proteção contra investigações de corrupção.
Entretanto, outras lideranças, como a de Tarcísio de Freitas, foram criadas a partir da tentativa de engloba uma postura liberal, o que se mostrou ineficaz para unir o populismo representado por Bolsonaro.
A direita tradicional poderia ter usado a oportunidade para se distanciar do golpismo e reorganizar suas forças de maneira mais honesta, mesmo que isso levasse tempo. Agora, enfrenta o risco de perder novamente e de atrasar um processo de reconstrução por, pelo menos, quatro anos. A realidade política complexa do Brasil requer um entendimento mais profundo das necessidades do eleitorado, algo que muitos ainda não conseguiram captar.